Quando vinha de longe, presenciava sempre teu vulto na janela da sala.
Deixei meus rastros no chão,
e entardeceu meu fantasma no chão ileso da volúpia e nas muralhas tingi meus ossos!
Há tantas falhas em nós…
Não conseguimos desatar sequer nossos beijos do escuro dos nossos retratos
Envelhecemos socialmente, e fomos obrigados a estender os lençóis no quintal úmido da saudade!
Mereces crédito de um desvalido?
Mendiguei durante anos as migalhas de um amor escrito em cartas…
Fiquei preso. Sim, preso num sótão de madeira de cambará.
Como podemos disfarçar a cada dia nossas vozes?
Vociferamos ao vento nossos desejos
Mas nenhum acatou nossos pedidos…
Vontades e desejos me dão vontade de não mais desejar furtar mais um beijo…
Cada dia me causa tédio
Cada dia me cansa de sentir que o vento logo irá apagar a luz…
Venta demais…
Os vasos da varanda de medo saltam c e num como num suicídio coletivo
Esmagam as flores que tentavam sobreviver…
Que pena!
Viver sem esperar causa cansaço…
As varandas temem que nossos passos sejam violentos,
Como marchas estúpidas dos meninos que partiram para uma guerra sem nome…
Prometestes nunca podar uma flor
E trouxestes-me as flores mais lindas que jardim algum tivera o privilégio de tê-las!
Porque fui teu erro, confessastes-me um dia!
Nos madrigais, encenavas tocar meu corpo,
A fazer juras de amor infantil, daqueles nossos tempos
Que nos prometíamos furando a ponta dos polegares,
E unidos em sangue, selávamos o que seria um dia o amor!
Foram as maresias que esculpistes em nossos atóis!
Achei num fado o gosto de oliva em teus lábios,
O verso escorreu no sabor de dizer palavras improvisadas
Foram tantos versos que criastes que quando percebi
Tornei-me o inverso de um pecar sozinho…